O idoso


Este texto orienta o cuidador de pessoas idosas, seja no domicílio ou na instituição, a promover atividades significativas e prazerosas, que estimulem a atenção e a memória da pessoa idosa. São atividades simples e de fácil utilização. Os procedimentos a seguir citados, não são terapias capazes de reverter grande parte dos casos de demência, nem tão pouco evitar a maioria dos processos demenciais, embora consiga retardar o aparecimento de alguns tipos de demência ou minimizar seus sintomas.


A possibilidade de viver muitos anos trouxe um grande desafio para a sociedade e para os indivíduos, pois a qualidade de vida na velhice de uma pessoa depende  tanto das condições que ela encontrou ao longo de toda sua vida como das suas  decisões para adotar um estilo de vida saudável, estudar e desenvolver-se. 












Vemos que algumas pessoas conseguem envelhecer relativamente bem,  enfrentando as mudanças que o seu organismo sofre, a aposentadoria e várias  perdas que são inevitáveis na vida de todos nós. Outras enfrentam esse ciclo com baixa auto-estima, tristeza, desânimo, frustrações e medo. Há aquelas que ficam confinadas à própria casa. Querem estar livres de horários e aos poucos perdem o convívio com a família, amigos, vizinhos,sociedade. Não querem exercitar a mente, pois acreditam que não necessitam pensar. Não fazem projetos, não têm motivação para qualquer tarefa física, manual, social, cognitiva. Passam a maior parte do tempo deitadas ou sentadas, assistindo passivamente programas de TV e/ou ouvindo rádio. Assim começam a esquecer nomes, onde puseram certos objetos, como óculos, dinheiro, roupas. A pessoa idosa acha que está perdendo a  memória, está inútil, não serve para nada mais. O que têm, no entanto, são os famosos “lapsos de memória”, comuns em todas as idades. Com pouca atividade e sem nenhum interesse, há um enfraquecimento das funções cognitivas, como a atenção e a memória. Assim, é preciso que o cuidador ofereça estímulos ambientais e tenha a preocupação de inseri-los na cultura da pessoa idosa. Este texto orienta o cuidador de pessoas idosas, seja no domicílio ou na instituição, a promover atividades significativas e prazerosas, que estimulem a atenção e a memória da pessoa idosa. São atividades simples e de fácil utilização. Os procedimentos a seguir citados, não são terapias capazes de reverter grande parte dos casos de demência, nem tão pouco evitar a maioria dos processos demenciais, embora consiga retardar o aparecimento de alguns tipos de demência ou minimizar seus sintomas. Sobre atenção e memória Memória é a aquisição, conservação e resgate de informações. É a capacidade de aprender coisas novas, relacioná-las com informações já adquiridas, retê-las e utilizá-las quando necessitarmos. Com o envelhecimento, é mais difícil ou mesmo mais lento o ato de aprender. É preciso mais treinamento e atenção para registrar e guardar o que ouvimos e vemos. Atenção, convém dizer, é a capacidade de focar (olhar bem), manter a consciência em determinado ponto. A capacidade de atenção está ligada à consciência e à motivação. Funciona como um filtro, que seleciona as informações que consideramos mais relevantes. A pessoa idosa tem dificuldade de prestar e manter a atenção, quando precisa realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, como, por exemplo, atender ao telefone e desligar o forno. A concentração e a atenção diminuem com a idade, mas podem ser melhoradas quando devidamente estimuladas. E a memória, pode falhar? Pode, quando a pessoa idosa é vítima de um acidente, se ela for acometida de pressão alta, depressão, estresse, ansiedade; tiver preocupações em excesso, distração, falta de períodos de sono, abuso de soníferos; e usar determinados medicamentos, álcool etc. 


LEMBRETE: a afetividade ou a emoção é que torna a memória mais viva, ou seja, quando prestamos muita atenção a um fato e/ou colocamos toda a nossa emoção nele, é provável que não o esqueçamos durante muito tempo. Se não nos cuidarmos bem (cansaço, ansiedade), teremos problemas de memória, pois fica reduzida a capacidade de concentração e da atenção. Quando a pessoa idosa não se lembra de algo que viu ou ouviu, ou que viveu, antes de dizermos que tem um problema de memória, necessitamos fazer-lhe algumas perguntas fundamentais para termos a certeza de que tem falhas grandes de memória. 

– Será que o sr.(a) viu ou ouviu bem? Para memorizar as informações captadas pelos órgãos da visão e audição, a acuidade sensorial (ouvir bem, ver bem) deve ser boa. O uso de óculos e aparelho auditivo, caso a pessoa idosa necessite, é imprescindível. 

– A informação era interessante para o sr.(a)? A pessoa memoriza mais facilmente as informações que a interessam ou que lhe são úteis. 

– A informação terá sido bem compreendida? A compreensão facilita a memorização. Qual o momento certo de procurar ajuda profissional? Quando você observar que a memória da pessoa idosa foi piorando durante certo período; se o seu esquecimento interferiu no desempenho das atividades da vida diária, como vestir-se, alimentar-se, fazer a higiene pessoal, não mais saber manusear dinheiro. Nestes casos, procure ajuda profissional (diversas doenças podem causar mudanças na memória; e muitas delas são tratáveis). 

LEMBRETE: a velocidade e a capacidade de aprender fatos novos pode diminuir com o envelhecimento. Por isto o idoso precisa de mais tempo para aprender mais coisas. Existe alguma coisa que podemos utilizar para melhorar a memória? Sim, os recursos de memória que ajudam a pessoa idosa a prestar atenção e memorizar aquilo de que precisa se lembrar, como nomes de pessoas próximas, nomes e horários de medicamentos, endereço, números de telefone, compromissos, recados. Estes recursos ajudam-na a controlar informações, a organizar-se melhor etc. Qual o melhor recurso para a pessoa idosa utilizar?Um recurso é adequado quando deixa a pessoa idosa à vontade para utilizá-lo e oferece espaço suficiente para anotações; é fácil de carregar, é bastante usado e é bem simples seu uso. Ex: agendas, calendários, blocos de anotações, listas de afazeres, papéis autocolantes, gravadores, pastas, quadros de anotações. Na agenda, a pessoa idosa deve fazer anotações necessárias para a sua segurança e colocar números de telefone de que necessite com freqüência. 

LEMBRETE: prestar atenção à informação a ser memorizada é de vital importância. Um dos maiores inimigos da memória é fazermos as coisas de maneira automática, sem prestar muita atenção. Podemos melhorar a atenção e a memória da pessoa idosa? Tudo o que aprendemos de novo é um estímulo para a memória. Por isso devemos sempre motivar a pessoa idosa para que faça coisas diferentes. Existem tarefas simples que o cuidador pode utilizar para exercitar a atenção e memória da pessoa idosa, tais como: 

• faça com que tenha um despertar diferente. Caso a pessoa idosa more na zona urbana, coloque música com sons da natureza, para que acorde ouvindo estímulos diversos e diferentes do rotineiro; 

• coloque um calendário em seu quarto e solicite que marque diariamente os dias da semana, para que saiba o dia em que se encontra. Tratando-se de uma pessoa não alfabetizada, faça orientação temporal, todos os dias, no início da manhã. Fale, por exemplo, “bom-dia; hoje é dia cinco de fevereiro de 2008; são 8 horas da manhã “. Ao final do dia, pergunte à pessoa idosa, em que dia, mês e ano ela se encontra; 

• procure fazer com que a pessoa idosa se mantenha tranqüila, evitando fadiga. Quando ela está cansada, se reduz a atenção, portanto, tem dificuldade de recordar fatos; 

• concentre a pessoa idosa na leitura. Quando for ler um livro ou revista para a pessoa idosa, quando esta for impossibilitada de fazê-lo, por analfabetismo ou outro motivo qualquer, ou quando ela estiver lendo, evite barulho. Faça perguntas sobre o que você leu ou ela tenha lido; 

• faça com que a pessoa idosa preste atenção quando estiver fazendo uma tarefa estimulando-a a verbalizar e concentrar-se nas etapas da tarefa, como vestir-se, pentear-se etc; 

• relembre fatos, isto é, converse com a pessoa idosa sobre a cidade onde ela mora (o que tem de mais importante), como era antigamente; converse sobre fatos de sua infância, adolescência, juventude; 

• procure socializá-la. Leve-a, sempre que puder, para passear. Faça com que conheça novas pessoas. Vá com ela aos lugares onde gostava de ir; 

• evite rotinas – nos passeios procure descobrir caminhos diferentes. Faça com que tenha interesse nestes caminhos; 

• faça com a pessoa idosa uma lista de tarefas antes de sair de casa. Entregue a ela e peça que siga o que foi escrito. Quando a pessoa idosa for impossibilitada de ler, leia para ela, motivando-a a lembrar-se do roteiro pré estabelecido; 

• estimule-a a praticar e aprender atividades que melhorem a atenção e concentração de acordo com sua capacidade física e intelectual, tais como, jogos de memória, quebra-cabeças, palavras cruzadas, jogos de tabuleiro, caçapalavras, cartas, computação, instrumento musical, grupos de leitura, língua estrangeira e charadas; 

LEMBRETE: pessoas idosas que fazem atividades estimuladoras da mente estão menos propensas a desenvolver distúrbios de memória e mais favoráveis a envelhecer bem. O estímulo mental melhora a capacidade de atenção e a velocidade e flexibilidade de aprendizagem. As atividades devem ser inseridas de acordo com seu nível cultural. 

• estimule-a a pensar no que vai dizer, quando ela quiser pedir algo; 

• quando for ao supermercado, escolha com a pessoa idosa os alimentos que vão comprar. Invente refeições diferentes. Também procure ir a supermercados diferentes; 

• mantenha à vista lembretes sobre coisas a fazer, como telefonar, pagar contas, datas importantes etc. Coloque os lembretes na porta da geladeira, criado-mudo, espelho do banheiro ou um mural no quarto da pessoa idosa. Se você a ajudar a manter os lembretes sempre no mesmo lugar, ela saberá encontrá-los quando necessário. Isso facilitará sua rotina; 

• estabeleça com a pessoa idosa um lugar para guardar coisas, como bolsa, óculos ou chaves; certifique-se de que ela sempre os colocará no mesmo local, após o uso. Assim você não fica procurando o tempo todo; 
• mantenha caderno e lápis ao lado do telefone, para a pessoa idosa anotar 
recados; caso não seja alfabetizada, peça que repita várias vezes o recado para 
que não esqueça; 
• relembre o dia. Procure lembrar-se com a pessoa idosa, de tudo o que aconteceu durante o dia; e tome providências para que ela tenha uma boa noite de sono. O sono auxilia a manter a atenção e a memória. Deixe o ambiente calmo, com poucas luzes. Lembre-se: o dormitório deve ser local de dormir! 

• Ajude a pessoa idosa a movimentar-se. Pessoas ativas têm boa capacidade respiratória, boas condições cardiovasculares e melhor capacidade mental. A prática regular de caminhadas melhora o suprimento sanguíneo para o cérebro, pois aumenta o oxigênio cerebral. Exercícios físicos só os desenvolva sob orientação médica. 

• Cuidado com os efeitos colaterais dos remédios: quanto mais envelhecemos, mais vulneráveis aos efeitos imprevistos de medicamentos nos tornamos, pois é reduzida a capacidade de metabolizar e alguns medicamentos podem afetar a atenção e a memória. Caso observe que a pessoa idosa está desatenta ou com falhas de memória quando toma um remédio novo, avise o médico sobre o ocorrido. 

• Organize a casa da pessoa idosa juntamente com ela – suas contas, sua vida pessoal. Isso libera espaço na mente e este será utilizado para memorizar coisas mais importantes. 

LEMBRETE: para que a pessoa idosa possa manter sua atenção nas tarefas cotidianas, estas devem ser significativas para ela, ou seja, devem oferecer prazer. 
É de suma importância que o cuidador consiga a inclusão pela cultura da pessoa idosa, por intermédio de atividades. O que é a “inclusão pela cultura”? O que é inclusão? Os dicionários dizem claramente: é aquilo que está dentro de algo, envolvido, participante. A palavra cultura também tem amplo sentido. Pode ser uma forma de acompanhar as tradições e valores de um lugar, de um período ou de um individuo. Desse modo, a inclusão pela cultura faz parte dos direitos do cidadão. De que modo pessoas com sessenta ou mais anos podem contribuir e participar das atividades culturais do lugar onde vive? De várias maneiras. Primeiro, ser respeitado naquilo que mais acumulou durante a vida: a experiência e o conhecimento sobre o que é chamado de tradição cultural. Gostar de ir à missa, por exemplo, é uma tradição religiosa. Participação cultural, porém, não é só isso. O Governo Federal, notando a necessidade da pessoa idosa participar da vida cultural do País, lançou em 2007 o 1o Prêmio Inclusão Cultural da Pessoa Idosa. Vários prêmios foram concedidos, em categorias como pintura, literatura e outros. O estatuto do idoso também lembra que a participação na comunidade é um fundamental direito da pessoa idosa. A lei prescreve que cada cidade incentive a participação das pessoas idosas na vida cultural. Não apenas com a gratuidade ou descontos em shows, cinemas e teatros, mas respeitando os valores culturais. Valores de mulheres e homens que viveram sua juventude naquele lugar, e contribuíram muitas vezes para o desenvolvimento da cidade. Para que tenhamos idéia do quanto é importante a inclusão cultural, contaremos breve história de um fato real. Uma senhora de 88 anos, que vivia em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) tinha grande talento, só descoberto por acaso, quando uma nova cuidadora entrou para a instituição. Todos os dias, a senhora perguntava pelo seu piano. Ninguém dava atenção às suas indagações. A nova cuidadora, num gesto de atenção e carinho, começou a conversar com ela. Perguntava-lhe sobre sua vida e os lugares que conhecia. A idosa, considerada, “caduca”, dizia ter ido à Europa e a outros continentes. A cuidadora pesquisou na biblioteca da cidade e na internet e então descobriu que aquela mulher havia sido uma pianista bastante conhecida no estado. Tinha realmente ido a outros países, mas nada disso era do conhecimento da Instituição e não houve interesse, na época de sua chegada, em saber o que aquela mulher tinha realizado. Se tivesse havido o cuidado de respeitar sua história de vida, quem sabe, seu quadro demencial poderia ter sido adiado. Este caso é só para ilustrar o quanto o cuidador pode, sim, incentivar a pessoa idosa a participar da vida cultural do lugar onde vive. Talvez não seja uma tarefa simples, mas, com um pouco de interesse e informações, é possível resgatar a cultura e preservar as tradições da pessoa idosa. A família e o cuidador podem ser grandes incentivadores neste processo. Lembretes e sugestões para favorecer a atenção, a memória e a inclusão pela cultura para a pessoa idosa: 

• o(a) cuidador(a) precisa saber quais as preferências culturais e outros prazeres da pessoa de quem cuida; 

• as preferências devem ser respeitadas pela família e pelo(a) cuidador(a); 

• no caso de haver qualquer manifestação cultural na cidade, a pessoa idosa deve ser incentivada a ir, desde que realmente demonstre interesse; 

• as tradições locais – como danças, festivais, festas religiosas e outros acontecimentos na cidade devem ser informadas à pessoa idosa. É um gesto de respeito e de não deixá-la à margem dos acontecimentos; 

• o médico sempre deve ser consultado no caso da ida a lugares com aglomeração (com gente demais); 

• os rituais que a pessoa idosa costuma ter devem ser valorizados. Faz parte de sua cultura interior; 

• é importante que a família procure saber se existem espaços de convivência e outros locais onde a pessoa idosa possa exercer o seu direito de cidadania. Estes espaços são muito importantes para a continuidade da vida em sociedade.

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